Em nosso cotidiano, quando acionamos a memória, estamos fazendo uma relação entre o que está acontecendo agora e o que aconteceu no passado. Através da memória, resgatamos histórias contadas por pessoas e lembranças de momentos importantes vividos em família, no trabalho ou em qualquer atividade desenvolvida.
A propósito, li no jornal ¨O Imparcial¨ da última segunda-feira (12/04) matéria informando que por iniciativa de um historiador de Caxias, professor Fernando Garcia de Sampaio, foi criado um site denominado Memorial Eternos MA (eternosma.com.br), um espaço pensado para homenagear e eternizar em memórias e lembranças as vítimas do coronavírus.
O projeto foi concebido para que familiares das vítimas deixem ali registradas mensagens de despedidas de seus entes queridos, contando histórias de pessoas que tiveram a vida interrompida precocemente e de forma inesperada, sem ao menos ter direito a um enterro digno, com velório, missa ou ato equivalente de encomenda do corpo, enfim, sem as homenagens fúnebres previstas em caso de morte.
Também vi nas redes sociais o lançamento do projeto “Murais da Memória pelo Maranhão”, para confecção de pintura em grafite nos espaços públicos a céu aberto, ilustrando o rosto de poetas, amos e cantores de Bumba meu boi. Entre os vários artistas da terra, a serem homenageados, figuram personalidades conhecidas da cultura popular, como Nair Apolônio, do Boi de Axixá; Calça Curta, do Boi da Maioba; Marcelino, do Boi de Guimarães; e Leonardo, do Boi da Liberdade.
Como afirmou o grande pensador e estadista Cícero “a história é testemunha do passado, luz da verdade, vida da memória e mestra da vida”. Confesso minha alegria em ver belíssimas iniciativas como essas, pois nos cargos que exerci no Ministério Público, sempre destinei especial atenção e destaque à valorização de memorial para a preservação da história. Assim ocorreu no ano de 2007, quando tive a honra de presidir a Associação do Ministério Público do Maranhão, ali concretizando a realização de um sonho, ao instituir por Resolução o PROGRAMA AMPEM MEMÓRIA, concebido como espaço destinado à exposição de objetos, obras de arte e documentos evocativos das lutas de classe, dele fazendo parte as seções: AMPEM galeria, AMPEM heráldica, AMPEM publicações e AMPEM audiovisual.
Para registrar de forma indelével passagens marcantes de personagens inesquecíveis, como parte comemorativa dos 35 anos da nossa entidade classista foi publicado, à época, um livro contendo alguns registros fotográficos, acontecimentos, símbolos, documentos e depoimentos que marcaram época.
De igual modo ocorreu quando fui Procurador-Geral de Justiça (gestão 2016-2020), revitalizando e incrementando o Programa Memória Institucional, agora com sede definitiva no Centro Cultural e Administrativo do Ministério Público (CCMP), um local de referência no Centro Histórico de São Luís e um dos mais modernos do Brasil.
Esse Complexo Cultural está localizado na Rua Oswaldo Cruz, na antiga sede da Procuradoria-Geral de Justiça e foi rebatizado com o nome de Edifício Aurora Corrêia Lima, ostentando na sua parede lateral externa a pintura de um painel policromático, na técnica grafite, de autoria do artista Naldo Saori. O mural representa um fato marcante, qual seja, o julgamento da Baronesa de Grajaú, Ana Rosa Viana Ribeiro, sob acusação do promotor público Celso Magalhães, patrono do Ministério Público, por haver torturado e matado o pequeno escravo Inocêncio, de apenas 8 (oito) anos de idade. O memorial, que compõe o CCMP, também possui em seu acervo dezenas de peças, documentos, vestimentas, fotografias e publicações, principalmente, exposição de objetos e o busto em bronze do Promotor de Justiça Celso Magalhães, patrono do Ministério Público do Maranhão.
Outra linha de atuação relevante foi a implantação do Programa História Oral, onde por meio de entrevistas e depoimentos de personagens marcantes se resgata parte da história não escrita em livros, mas vivenciadas por seus atores sociais, que muito ajudaram a construir a instituição do Ministério Público. Um dos últimos atos, mas não menos importantes da minha gestão, foi a edição do Memorabilia MP, com as publicações eletrônicas e impressas do primeiro volume do Livro História Oral e a Coletânea dos Discursos da Ex-Procuradora Geral de Justiça, Drª Elimar Figueiredo de Almeida e Silva, como forma de homenagear a primeira Procuradora-Geral de Justiça do Brasil, pós CF/88, bem assim o lançamento dos últimos volumes da Correspondência Ativa dos Promotores Públicos do Império, em número de 8 (oito) tomos, com mais de 4.100 páginas, fechando assim o ciclo de 24 (vinte e quatro) tomos cuja publicação se iniciou no ano de 2004.
Como último registro das realizações do Programa Memória Institucional, destaco a participação do Programa Memória na Feira do Livro de São Luís, fato este inédito, marcado de intensa programação e atividades, em que tivemos a oportunidade de divulgar as várias ações do Memorial, através de painéis, arte e multimídia. Ainda como atividades do Programa Memória Institucional, a publicação do livro “Caso dos Meninos Emasculados” e a edição do Hino Oficial do Ministério Público, precedido este por concurso público.
Há que se ressaltar que esse grande trabalho foi construído por várias mãos, só sendo possível graças ao empenho, competência e determinação da Comissão Gestora do Programa Memória Institucional do Ministério Público, tão bem coordenada pelo Procurador de Justiça, Dr. Teodoro Peres , contando com a inteligência e colaboração dos valorosos membros Washington Cantanhede, Cláudio Frazão e Ana Luíza Ferro, além dos exemplares servidores Maria dos Remédios Ribeiro e Lucina Medeiros.
Com essas considerações, me orgulho de ter contribuído para a valorização da memória e cultura do Ministério Público maranhense, garantindo ao cidadão a plenitude de seu direito à memória e exaltando iniciativas de homens e mulheres que, pelo seu idealismo e determinação, ajudaram a construir a história do Ministério Público do Maranhão. É tempo de resgatar a memória, acolher o presente e desenhar o futuro, pois como já dizia nosso grande poeta Ferreira Goulart, “ a arte existe porque a vida não basta”.
Valorização dos memoriais para a preservação da história
- Luiz Gonzaga Martins Coelho
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