“O grande homem não sabia que era grande”. (Emerson)
A estrela que guiou os reis magos do Oriente para irem adorar a Jesus, o menino santo que havia nascido, sempre resplandece no coração daqueles que o Criador escolheu para brilharem neste mundo.
Quem conhece a trajetória vitoriosa do Eminente Desembargador, Dr. João Santana, poderá aquilatar as montanhas de obstáculos que enfrentou e venceu. Nasceu em um lar modesto, todavia estruturado em sólidos princípios, cumulado de elevados valores morais.
Em sua adolescência, viveu em ambiente de muito atraso e ralos estímulos governamentais, em contexto de vulnerabilidade, agravado pelas incertezas que permeiam o universo das populações desassistidas, num autêntico cenário social muito precário. Logo, não é uma planta de estufa, abrigada das invernias e da inclemência do sol.
Mas é evidente que isso não abateu seu ânimo, nem apagou a luz que cintilava em seu coração pois, à semelhança daquela estrela que guiou os magos, o levou a caminhos de sucesso e grandes realizações.
Quem lê seus livros de poesias, repletas de lirismo e significação ou relatos de acontecimentos prosaicos de sua vida primaveril, nota de pronto que se trata de um homem bem resolvido em todas as esferas, capaz de vibrar e enternecer-se, como poucos, diante das coisas simples da natureza, seja um pássaro, uma árvore, uma flor, uma nuvem ou o murmurejar de um riacho.
Eu tive o privilégio de conhecê-lo em Imperatriz. Dentre uma plêiade de jovens alunos, ele se posicionava com seriedade e ótimo comportamento. Em minhas aulas sempre disse que possivelmente ali entre eles estivessem futuros líderes, profissionais de várias categorias. Falava da vida de Lincoln e de outras figuras que despontaram em seu tempo, graças unicamente ao empenho e caráter deles. Eu confesso que acreditava verdadeiramente no que expressava.
Já foi dito que não nascemos prontos e isso é um truísmo. Eleitos, como ele, que, apesar de trilharem uma jornada entremeada de solavancos e atravancada de contratempos, são agraciados pela Providência com determinação férrea. Tornam-se capazes de suportar as maiores pressões. Portanto, como acontece com o ouro que, ao passar pelo cadinho, para ser calcinado, torna-se purificado, de igual forma acontece com esses poucos e abençoados seres humanos, em que o fogo das agruras expande dentro deles a têmpera dos predestinados.
O tempo passou, até que, um dia, quando era Deputado, encontrei o meu antigo aluno como advogado, pertencente ao quadro jurídico da Prefeitura de Imperatriz. Atuava com muita dedicação, dignificando o exercício daquela atividade e contribuindo para solucionar com amabilidade e sem aspereza os casos que lhe eram destinados.
Soube depois, com regozijo, de sua aprovação à magistratura e com ele estive quando presidia uma das varas da Fazenda Pública, nesta capital. Passado algum tempo, recebi com imenso contentamento a notícia de sua elevação ao Egrégio Tribunal de Justiça.
Alguns poderão pensar que foi apenas sorte ou fatalidade? Afasto tais concepções, pois certamente ele aprendeu que a luz dentro dele era como um raio de sol, que não pode ser ocultado quando alguém o pisa, pois ele continua a brilhar acima, porque é de lá que ele vem. De forma semelhante concebo que ele crê no Deus criador.
Epitectos proferiu: “Você veio a este mundo não porque assim escolheu – ou aonde você escolheu – mas porque o mundo precisou de você.” Vê-se, desse modo, que não temos controle sobre onde nasceríamos nem quanto tempo permaneceremos neste planeta.
Esse homem singular sabe que ninguém é uma ilha. Para viver feliz é preciso compartilhar, reconhecer e compreender que todos somos humanos e que retiramos o ar de uma fonte comum. Isso sedimentou a equidade que foi sempre a marca de sua atuação.
Admite-se, também, que o deus da fortuna, o dinheiro, nunca constituiu sua idolatrada devoção. Nutriu-se, isto sim, das profundas lições de seu velho e sábio pai e das constantes recomendações de sua genitora, sedimentada nas lições tradicionais da família, exaltando o bom, o justo e a probidade, ao esconjurar o mau, o defeituoso e o perverso, reforçando a poderosa e irresistível força atávica que o faz preservar em seu gabinete uma telha de barro, como símbolo quase místico do chamamento telúrico que o dignifica.
Nunca permitiu que o egotismo contaminasse sua personalidade, espancando-o e lançando-o para longe de si, pelo seu desprezo à prepotência e à arrogância, salvando sua personalidade das usinas de vaidade.
Soube lidar com as frustrações da vida, tendo presente que todos têm seu quinhão de perdas. Mas de alguma forma parece sentir que devia haver uma resposta para suas indagações, mesmo que em determinados momentos tenha sofrido as pesadas cargas do imponderável, contudo, soube ser sóbrio, agigantando-se diante dos problemas.
O exemplo do talento e do perseverante empenho que ele representa demonstra o poder criativo que sustenta o universo e que estava trabalhando em seu favor. Certamente tenha compreendido que o Criador deu-lhe mãos para que pudesse tocar o próximo e compreensão de que, se elas estivessem cheias de bens, não poderia dispô-las para exercer seu mister com humanidade e honorabilidade.
Em um faustoso dia recebi um telefonema do Tribunal de Justiça. Era a secretária do Dr. João Santana, convidando-me para o lançamento de um livro de sua autoria. Surpreso e extremamente emocionado fiquei quando li nas páginas introdutórias desse livro a homenagem que esse autor me prestava exaltando-me como seu antigo professor, fazendo estremecer de gratidão meu velho coração.
Engrandecidos sejam aqueles, semelhantes ao poeta João Santana que, enlevados, cantam sua terra e repercutem a musicalidade das coisas simples da vida.
(18 de agosto de 2021)