Na década de 70 algumas empresas maranhenses lançaram ações no mercado nacional. A economia estava superaquecida, embalada pelo vertiginoso crescimento do PIB e do “Milagre Econômico” até tombar com a crise do petróleo. Foi neste momento que a Óleos Vegetais de Coroatá S/A(Ovecosa), do empresário Vitor Trovão, fez sua estreia na Bolsa de Valores e o cidadão Edson Arantes do Nascimento, o craque Pelé, comprou lote de ações da refinadora de óleo de babaçu, valorizando o papel.
Nesse ínterim, o broker Cláudio Pinto Reis, era passageiro cativo do jato Caravelle, da Cruzeiro do Sul, rumo a Fortaleza para negociar títulos na Bolsa do Ceará, até o extinto Banco do Estado do Maranhão(BEM) inaugurar mesa de operação no Rio de Janeiro. Empolgados com o apogeu do mercado de capitais, muitos empresários locais se aventuraram nessa ciranda financeira. Como estava escrito nas estrelas, pouquíssimos se deram bem e a maioria, muito mal.
Essas lembranças são para registrar o IPO(oferta pública inicial de ações) programado pelo Supermercado Mateus S/A, para o dia 7 de outubro, quando pretende recrutar R$ 4,6 bilhões no Novo Mercado da Bovespa, podendo chegar a R$6,2 bilhões, se o preço do papel valorizar. Para se habilitar a esse capital, percorreu caminho vitorioso de 34 anos para despertar o interesse do investidor. No balanço de 2019 aponta faturamento de R$ 6,326 bilhões, o que representa mais de US$ 1,2 bilhão em vendas no período.
Valor expressivo para estas plagas, levando-se em conta que nenhuma companhia local alcançou resultados desse teor. É bom citar que a Equatorial–substituta da Cemar, o Consórcio Alumar, a Suzano e outras corporações aqui instaladas não se enquadram como tal, por terem ações pulverizadas em bancos, empresas e fundos internacionais. Daí o grande destaque ao varejista Mateus, o 4º maior do país na categoria Atacarejo, e sempre em ascensão. O Grupo Mateus faturou R$ 9,9 bilhões, quase US$ 1,9 bilhão, no ano passado, superando a receita da poderosa Rede Globo.
Conheci Ilson Mateus por volta de 2004 durante o AgroBalsas. Armazém Mateus, Supermercado Mateus e um shopping em Balsas já o destacava como empresário de porte, entre os maiores atacadistas da região do sul do estado. No pátio da empresa várias carretas estacionadas demonstravam a força do negócio. Não sei como ele começou. Mas creio que lutou muito para chegar ao pódio. E, é claro, teve muita perseverança e sorte, porque a sorte não abandona quem trabalha.
O Maranhão já conheceu grandes grupos. Armazém Cruzeiro do Sul e Ildon Marques, das lojas Liliane, ambos de Imperatriz. Os Claudino(João e Valdecy), do conglomerado Armazém Paraíba, passando pela Coca-Cola dos irmãos Eduardo e Biné Lago, Grupo Lusitana(Manoel Ferreira, Abrão Valinhas e outros sócios), as organizações Potiguar e Centro Elétrico(quase 100 anos de existência) até chegarmos ao Grupo Mateus, posicionado entre os maiores varejistas brasileiros.
Quando a rede Lusitana foi vendida, em setembro de 2002, para o grupo holandês Royal Ahold, a cidade toda comentou. No mesmo embalo os holandeses que já tinham adquirido o nordestino Bom Preço, repassou o negócio inteiro–quase 400 pontos de venda–ao gigante americano Walmart, recém instalado no país. No Maranhão, o novo comprador jogou pela janela trabalho de mais 60 anos. Recebeu o Lusitana com perto de 20 lojas em São Luís e faturamento de quase US$ 200 milhões, mas não soube tirar vantagem dessa herança.
O vácuo deixado com a saída do Seu Manoel do mercado, e a inoperância e desleixo praticados pelo Walmart, cujos diretores nunca pisaram em São Luís, abriram brechas para empresários do ramo. Raimundo Gaspar, dono do Econômico, vendeu a empresa para o irmão Carlos Gaspar, que montou o Preço Bom, chegando a ocupar grande espaço na cidade e que mais tarde, passou a negócio para Ilson Mateus. A partir daí, a rede Mateus liderou o setor.
Seu Manoel do Lusitana, assim como José Ribamar Marão, da Cinorte, Seu Wadih, fundador, Alberto, César e Eduardo Aboud(Chames Aboud, Banco do Maranhão, Santa Isabel, fábricas de arroz e óleo), Luís Porto, da Oleama, João Martins, da Martins & Irmãos, Adhemar e Chiquinho Aguiar, da Francisco Aguiar(Marauto, Fábrica Camboa, sócios do Banco do Maranhão e dono da Casa Bancária FA) e muitos outros que tenha esquecido de citar, fazem parte da lenda empresarial maranhense. Glória de um tempo que acabou.
Agora é o momento de Ilson Mateus e do seu grupo de empresas presente no Maranhão, Pará e Piauí, gerador de quase 30 mil empregos, e que tem no Supermercado Mateus a sua “joia da Coroa”. Com extraordinário tino comercial soube aproveitar os benefícios dos incentivos fiscais do ICMS capitalizando a empresa, transformando-a em organização forte e capaz de incomodar concorrentes como os franceses do Carrefour e Atacadão e Casino(Pão de Açúcar e Assaí).
No campo empresarial a fila anda e, às vezes, muito rápido. Ilson Mateus sempre foi arrojado com os negócios e tem intuição antenada com o futuro. Sabe, como ninguém, identificar o que o cliente quer e quanto pode pagar. Daí ter sido laureado com citação na Revista Forbes como o 9º empresário mais rico do país. Consagração de trajetória vitoriosa cuja estrela continuará a brilhar na constelação corporativa.